segunda-feira, outubro 08, 2007

"Lídia"


"Primeiro foi uma espécie de impressão nos ombros e no pescoço."* Maria Teresa Horta sonhou; eu imaginei-a assim. Um dia voou para longe do marido, da rotina. Tornou-se nisto, num espasmo onírico. Não sei para onde foi, mas deve estar melhor do que antes. Ela começou a cheirar a rio e a árvores. Acabou por saltar da janela e despojar-se da vida como uma cobra se liberta da pele velha. Voou para longe, para onde pode ser sem ter de ser outra.

*In Contos, HORTA, Maria Teresa (e outros), Editorial Caminho, Lisboa, 1985, pág. 151

5 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

Gosto que surjam textos e imagens novas no teu blog!
Não conhecia a Maria Teresa Horta. Gostei de muitas coisas que encontrei dela. Deixo aqui um poema dela:

Poema sobre a recusa

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.

11:12 da tarde  
Blogger Maria Flor disse...

Vivi, descobri-te por acaso. E que saudades. Vou ler-te com carinho e com o tempo que mereces, o que agora é praticamente impossível.

Já passaram alguns anos desde a última vez que nos vimos, mas a verdade é que nunca te esqueci. Temos que combinar um cafezinho para por a conversa em dia. Afinal, ambos crescemos, deve haver muito por (re)descobrir.

Um beijinho do tamanho do mundo,

Belinha

4:54 da tarde  
Blogger Trebaruna disse...

Vitinho, dizias de mim...mas tu não tens actualizado o blog! E estava eu aqui a preparar-me para ler algo bastante nutritivo... ai ai ai

6:30 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Habita em nós um hábito
tão fácil de enraizar
habita em nós um golfejo
um mar...

4:15 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Infelizmente há Lídias que nunca voam. Mesmo que ganhem asas, têm medo de voar.

9:21 da tarde  

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