sábado, agosto 07, 2004

passo a passo...

Quando percorremos muitos quilómetros a pé, sozinhos, a solidão conduz-nos pelos corredores do que mais íntimo temos. Sentir um misto de pequenez com grandiosidade, humildade e orgulho. Andei duzentos e trinta quilómetros por entre árvores, rios, montanhas, pessoas. A altitude deixa-nos tontos, o sol deixa-nos ébrios. Tudo nos faz perceber como somos insignificantes... mas quando fechamos os olhos e não conseguimos diluir a imagem de alguém do nosso passado, percebemos que ainda faz parte do nosso presente. Pensava que ia tornar-me mais forte ao percorrer o Caminho Francês de Santiago, descrito por Ameryc Picaud, um monge francês, no século XII. Só acentuou aquilo que estava esbatido pelo tempo. Deu-me a conhecer a minha fraqueza, a minha dor... espero que não a perdição. De uma forma ou de outra também me faz sentir vivo. Sinto-me agora como me senti na primeira vez que escrevi aqui... sinto a falta dela e não lho posso dizer... "É a dor da esperança que não sai de dentro de nós... Quem me dera que ela lesse isto. Quem me dera que ela ouvisse. Quem me dera que ela ainda sentisse...". É claro que agora, mais do que nunca, ela é inacessível, e vivo num mundo de sonho sustentado pela esperança. Mas a culpa (ou responsabilidade) é toda minha. Fui eu que a afastei quando ela queria estar comigo... agora tenho de viver com este peso... ou simplesmente apagar...
Mas ainda me resta a coragem de prosseguir... "They often cheered us on, yelling ultreya. - What does that mean?, I asked. It means moving forward with courage."
Obrigado por tudo o que me ensinaste. Só tu me fizeste sentir perfeito... como uma massagem interior com um unguento imaterial, feito de sons cavernosos e suaves.
"Ultreya! Have courage, because all roads lead to the beginning. You must travell out of time until you make the symmetrical loop of understanding what went before".
Amo-te intrinsecamente e ficaria contigo para sempre, como as rochas de Sintra... basta sentires...




1 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

"Era um pássaro alto como um mapa

e que devorava o azul

como nós devoramos o nosso amor.



Era a sombra de uma mão sozinha

num espaço impossivelmente vasto

perdido na sua própria extensão.



Era a chegada de uma muito longa viagem

diante de uma porta de sal

dentro de um pequeno diamante.



Era um arranha-céus

regressado do fundo do mar.



Era um mar em forma de serpente

dentro da sombra de um lírio.



Era a areia e o vento

como escravos

atados por dentro ao azul do luar." Cruzeiro Seixas

2:59 da manhã  

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