Discurso sobre quartos vazios

Nascemos num caixão feito de seiva e raízes e húmus.
Começa a nossa fundação.
Temos paredes, telhado.
Pouco a pouco acrescentam-nos mobília, pó, carpetes e inutilidades.
Quando somos uma mansão, albergamos uma família. Enchem-nos de riscos de carvão e de brincadeiras pérfidas de crianças. Habituamo-nos aos passos pouco cadenciados daquela menina de cabelo preto e olhos azuis. Corre, saltita e deixa marcas.
Um dia acordamos e só temos quartos vazios. Olhamos para paredes brancas lapidadas pelo tempo e desejamos ser demolidos. As paredes já não fazem sentido, já não há crianças a pular nem avós a urinar pelas pernas abaixo, carcomidos pela idade. Só há quartos vazios. Só há morte e renascimento e dor esquecida.
3 Comments:
Olá...descobri seu blog...gostaria de lhe dizer que estou amando..ler..sentir..seus escritos...parabéns pela sua sensibildiade, pretendo ler todos os artigos aqui postado por vc....beijos de luz...querido escritor...Brida...
Muito bonito!
Gosto do brilho que dás às palavras.
Desejo que estejas bem.
Beijinhos
Não sejas tão dramático. Sempre tens as memórias, boas e más, que insistem em assombrar os quartos vazios. Ha sempre mais para alem da mera retina.
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