quinta-feira, junho 26, 2008

Discurso sobre quartos vazios


Nascemos num caixão feito de seiva e raízes e húmus.

Começa a nossa fundação.

Temos paredes, telhado.

Pouco a pouco acrescentam-nos mobília, pó, carpetes e inutilidades.

Quando somos uma mansão, albergamos uma família. Enchem-nos de riscos de carvão e de brincadeiras pérfidas de crianças. Habituamo-nos aos passos pouco cadenciados daquela menina de cabelo preto e olhos azuis. Corre, saltita e deixa marcas.

Um dia acordamos e só temos quartos vazios. Olhamos para paredes brancas lapidadas pelo tempo e desejamos ser demolidos. As paredes já não fazem sentido, já não há crianças a pular nem avós a urinar pelas pernas abaixo, carcomidos pela idade. Só há quartos vazios. Só há morte e renascimento e dor esquecida.

3 Comments:

Blogger brih disse...

Olá...descobri seu blog...gostaria de lhe dizer que estou amando..ler..sentir..seus escritos...parabéns pela sua sensibildiade, pretendo ler todos os artigos aqui postado por vc....beijos de luz...querido escritor...Brida...

4:29 da tarde  
Blogger Trebaruna disse...

Muito bonito!
Gosto do brilho que dás às palavras.
Desejo que estejas bem.
Beijinhos

11:49 da manhã  
Blogger o excessivo pensador disse...

Não sejas tão dramático. Sempre tens as memórias, boas e más, que insistem em assombrar os quartos vazios. Ha sempre mais para alem da mera retina.

9:21 da tarde  

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