segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Húmus humano

No outro dia, como quem tropeça numa pedra saliente na calçada, encontrei uma notícia sobre uma mulher que, algures nos Estados Unidos, tinha assassinado o filho ou filha de três meses. Segundo a própria, o bebé estava a chorar muito e isso estava a impossibilitá-la de jogar Farmville. Abanou o bebé até este deixar de chorar. Fê-lo em duas fases, parou a meio para fumar um cigarro. Foi condenada a 50 anos de prisão.
Não quero fazer uma análise moralista desta situação. Não quero demonstrar asco ou raiva perante este comportamento. Os alicerces da civilização, que nos permitem viver como seres sociais, já não existem. O mundo faleceu e está a decompor-se, pelo menos nalguns sítios. As demandas por paraísos no século XIX, empreendidas por exploradores ávidos de aventuras, já só existem dentro das pessoas. Todos os dias, invariavelmente, os homens procuram fugir deles próprios e da falta de sentido. A simplicidade natural de todas as coisas esvai-se em hemorragias de medo. O resultado é a perda de tudo. Nada se transforma, tudo se perde.
Ainda assim, o mundo merece que se lute por ele. É o único que temos.