quinta-feira, agosto 26, 2004

a flor é bela... e a saudade doi...

Saudades


Saudades! Sim... talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!



Florbela Espanca

Meu Amor...

Meu amor, meu amor
Música de Alain Oulman. Escrito em 1968. Interpretado por Amália Rodrigues no disco Com que Voz - Columbia SPMX 5012.

Meu amor meu amor
Meu corpo em movimento
Minha voz à procura
Do seu próprio lamento.
Meu limão de amargura meu punhal a escrever
Nós parámos o tempo não sabemos morrer
E nascemos nascemos
Do nosso entristecer.
Meu amor meu amor
Meu nó e sofrimento
Minha mó de ternura
Minha nau de tormento
Este mar não tem cura este céu não tem ar
Nós parámos o vento não sabemos nadar
E morremos morremos
Devagar devagar.

in SANTOS, Ary dos, As Palavras das Cantigas (organização, coordenação e notas de Ruben de Carvalho), Lisboa, Edições Avante, 1995

quarta-feira, agosto 25, 2004

posso ter tudo, mas não tenho o que é mais importante...


"Invoco-te para preencher o vazio das noites em que a solidão morde o meu corpo magoado. E deito-me, inventando-te no espaço preciso da tua ausência."

terça-feira, agosto 24, 2004

(in)sanidade...


Spider... desconcertante, incisivo. David Cronenberg captou a psicose e a angústia da esquizofrenia... Conduz-nos ao medo de acreditar em algo que não existe...

"Spider", de David Cronenberg, com Ralpf Fiennes (Spider), Miranda Richardson (Ivonne/Mrs. Cleg), Gabriel Byrn (Bill Cleg) (...) (Metropolitan Film Export, Helkon SK, Capitol)

domingo, agosto 15, 2004


Mesmo que a subida seja difícil não podemos desistir... o melhor duma viagem é poder voltar com a sensação de ter cumprido algo... (Luisa a ascender a Pedrafita do Cebreiro, com esforço...e a glória de apreciar uma paisagem a 1300 metros de altitude...)

The fellowship of the way... Tolkien would say...

até à luz...


Quero subir a escada para o topo... é bom quando se escolhe a ascensão...
(Poço Iniciático, Quinta da Regaleira, Sintra)



A paisagem galega mostra-nos como podemos ser pequenos... e como podemos alargar-nos...

Uma melodia em Redondela (Galiza)...
à espera do comboio para me levar de volta a casa... consegues ouvi-la?

domingo, agosto 08, 2004

a carta...

Escrever aqui, dirigir-me a ti, na segunda pessoa do singular, é como se pudesse falar contigo, na tua ausência. Escrevo-te e digo-te aquilo que já não podes ouvir. Como uma carta apaixonada, isto que escrevo ganha contornos de loucura, pois parece não ter referente. Tu, que escreves como uma deusa que tutela a eloquência, já não me retribuis palavras, já não me ouves. Como posso ter morrido para ti? Tudo isto está votado à tristeza, mas não a alimento... anseio pelo dia em que este "blog" vai ser absurdamente feliz, em que o meu discurso será pautado pelo sorriso dos teus olhos...





sábado, agosto 07, 2004

passo a passo...

Quando percorremos muitos quilómetros a pé, sozinhos, a solidão conduz-nos pelos corredores do que mais íntimo temos. Sentir um misto de pequenez com grandiosidade, humildade e orgulho. Andei duzentos e trinta quilómetros por entre árvores, rios, montanhas, pessoas. A altitude deixa-nos tontos, o sol deixa-nos ébrios. Tudo nos faz perceber como somos insignificantes... mas quando fechamos os olhos e não conseguimos diluir a imagem de alguém do nosso passado, percebemos que ainda faz parte do nosso presente. Pensava que ia tornar-me mais forte ao percorrer o Caminho Francês de Santiago, descrito por Ameryc Picaud, um monge francês, no século XII. Só acentuou aquilo que estava esbatido pelo tempo. Deu-me a conhecer a minha fraqueza, a minha dor... espero que não a perdição. De uma forma ou de outra também me faz sentir vivo. Sinto-me agora como me senti na primeira vez que escrevi aqui... sinto a falta dela e não lho posso dizer... "É a dor da esperança que não sai de dentro de nós... Quem me dera que ela lesse isto. Quem me dera que ela ouvisse. Quem me dera que ela ainda sentisse...". É claro que agora, mais do que nunca, ela é inacessível, e vivo num mundo de sonho sustentado pela esperança. Mas a culpa (ou responsabilidade) é toda minha. Fui eu que a afastei quando ela queria estar comigo... agora tenho de viver com este peso... ou simplesmente apagar...
Mas ainda me resta a coragem de prosseguir... "They often cheered us on, yelling ultreya. - What does that mean?, I asked. It means moving forward with courage."
Obrigado por tudo o que me ensinaste. Só tu me fizeste sentir perfeito... como uma massagem interior com um unguento imaterial, feito de sons cavernosos e suaves.
"Ultreya! Have courage, because all roads lead to the beginning. You must travell out of time until you make the symmetrical loop of understanding what went before".
Amo-te intrinsecamente e ficaria contigo para sempre, como as rochas de Sintra... basta sentires...