quarta-feira, novembro 02, 2005

Ruas vagas...


Antes, quando eras uma ideia, nada mais, deixava que os pés me levassem por aí, ao sabor do sonho. O sonho ganhou asas, ou pernas, e partiu. Não desapareceu, ganhou uma textura, a carne revestiu o esqueleto difuso. Sinto a senescência conjunta, desde o início do tempo, das nossas almas (conceito ainda mais prolixo, mas que um dia, tal como prometeste, vais explicar-me) e não consigo exprimir isto, nem apelando a toda a minha razão, se a tiver. Sinto a noite na minha cidade, caminho ao longo dos lancis e imagino os teus passos, que me acompanham. Depois, quando chove, ou quando só eu sinto a chuva, evito os teus passos, mesmo imaginados, corro para longe deles, para que um dia não me façam falta. Nesses momentos as luzes redondas são disparos infernais que me atormentam, beliscam-me e atrapalham a minha peregrinação. Mas só porque caminho por passeios de pedras sinuosas, não significa que não possas apanhar-me... estou sempre a clamar o teu corpo perto de mim, a tua compleição etérea... mesmo que não me ouças.