segunda-feira, janeiro 15, 2007

Conjunto de elementos…



Um dia surgiste. Nem anjo nem demónio, uma multiplicidade de paradigmas incertos (nem sei por que raio acabam por ser paradigmas), daqueles que nos fazem suspeitar que um aglomerado de muitas coisas é igual ao vácuo.
A tua forma, vagamente familiar, assusta-me e desperta-me para pesadelos e sonhos. No fim, quando nem as cinzas o são, continuas eterno ou eterna, porque até no género és errante. Foi mais um momento de cobardia, daqueles em que me deixo ir. És prole do meu desleixo. Espero, no entanto que voltes a acontecer, já que passaste tanto tempo a latejar no meu esterno.

terça-feira, janeiro 02, 2007

Cárcere…



Estás dentro de mim, guardada por um guerreiro imortal com ânsia de me proteger. Podes sair quando quiseres, mas ninguém entra para te roubar. O guerreiro, que desde a época em que não havia tempo está dentro de mim, mantém-te, contra a minha vontade, numa torre alta, inacessível para a maioria dos humanos, dentro de mim. Ninguém sabe como entraste. Até os sábios, que no silêncio ditam ao guerreiro cada acto da tarefa da minha protecção, se questionam acerca do teu poder, da tua sensibilidade ausente como um furacão devastador, que mesmo sem se ver destrói tudo. O guerreiro tem uma armadura feita de noite, da cor do teu cabelo, e está montado num dragão, uma criatura coerente com a tempestade, adaptada à loucura tenebrosa dos combates sucessivos, inevitáveis em mim.

Quando deambulo sei que estás lá, contra os meus desejos. Ou será que o meu desejo é ter-te assim, aqui dentro, como um fantasma, uma sombra suspeita, da qual não sei nada mas que me acompanha como o chão que piso?

És a verdadeira poesia, como os antigos a pensaram. Fazes fluir música e ar e labaredas e arvores arrancadas pela raiz. Através de ti tenho forma e penso que é melhor sentir uma opressão no peito, que me fustiga e me impede de respirar, do que experimentar o vácuo de não te ter. Amo-te.