segunda-feira, outubro 08, 2007

"Lídia"


"Primeiro foi uma espécie de impressão nos ombros e no pescoço."* Maria Teresa Horta sonhou; eu imaginei-a assim. Um dia voou para longe do marido, da rotina. Tornou-se nisto, num espasmo onírico. Não sei para onde foi, mas deve estar melhor do que antes. Ela começou a cheirar a rio e a árvores. Acabou por saltar da janela e despojar-se da vida como uma cobra se liberta da pele velha. Voou para longe, para onde pode ser sem ter de ser outra.

*In Contos, HORTA, Maria Teresa (e outros), Editorial Caminho, Lisboa, 1985, pág. 151